Em Belém, arte-educadores discutem propostas para uma nova educação no século 21
Arte-educadores de todo o Brasil e de diferentes países estiveram reunidos em 30 de janeiro no FSM, na atividade promovida pela Associação Brasileira de Arte-Educadores (ABRA), Internacional Drama/Theatre and Education Association (IDEA) e Rede Mundial de Artistas em Aliança. A mesa de diálogo Educação, artes, política e transformação social: qual o papel das artes na construção de um novo paradigma de educação no século XXI, foi realizada em parceria com o Pólis e contou com a presença de mais de cem pessoas. Logo no início foram distribuídos aos participantes a segunda edição da Carta das Responsabilidades do Artista recém publicada pela Rede Mundial de Artistas e Instituto Pólis.
O coordenador do IDEA e Fundador da ABRA Dan Baron, conduziu a atividade quebrando os protocolos tradicionais. Tendo como horizonte a reflexão sobre novos paradigmas para a arte-educação, nada mais coerente que esta atividade constituísse, desde o início, um momento de experimentação de novas formas pedagógicas com a utilização de linguagens artísticas formais e não-formais. A proposta das entidades organizadoras é trabalhar a arte-educação na perspectiva da transformação social, buscando pontos de união entre as dimensões culturais e políticas. As principais reflexões se deram a respeito das relações entre política, cultura, arte, educação e transformação social; e sobre quais os maiores desafios sentidos pelos arte-educadores no desenvolvimento de suas práticas.
Nesse sentido, foi debatido que todas as ações que visam transformações sociais tem uma dimensão política intrínseca e que a arte aliada à educação tem um enorme potencial para alcançar esse objetivo. Isso, sobretudo, por possibilitar a transformação interna, pré-requisito sem o qual nenhuma transformação social verdadeira pode se efetivar. Nos relatos dos arte-educadores, o principal desafio no desenvolvimento de suas práticas é a dificuldade de aplicar na prática o que se cria na teoria. Alguns participantes chegaram a falar sobre a dificuldade que existe em manter a coerência entre o que se pensa e o que se faz. Tal dificuldade se deve pela organização do mundo, que impede o artista de exercer sua liberdade.
As propostas para a construção de outro paradigma para educação se basearam na necessidade constatada de superarmos, neste século XXI, o formato tradicional e autoritário da sala de aula e dos calendários e conteúdos letivos padronizados pelo Estado que suprime a diversidade cultural existente nos países. É urgente a descentralização da organização dos currículos escolares permitindo que as diferentes culturas de cada comunidade possam seguir seus próprios referenciais. Soma-se a isso o estabelecimento de diálogos interculturais que enriqueçam e ampliem os diferentes conteúdos. Além disso, a busca por sistemas educacionais não mecanizados e direcionadas para o mercado de trabalho, além da participação da comunidade nas dinâmicas escolares.
O papel da arte na transformação Social na América Latina
No dia seguinte, 31 de janeiro, a última mesa de diálogos promovida pela ALACP, lançada oficialmente no dia 30, teve como objetivo apresentar experiências de vários contextos do continente e refletir sobre novas dinâmicas que demonstrem o papel da arte e da cultura nos processos de transformação social. O que estas dinâmicas tem apresentado que fortalecem uma outra noção de país através do enriquecimento da vida real e imaginária? O que podem apontar para uma outra integração latinoamericana? Qual a importância do diálogo intercultural? Qual a incidência dessas experiências sobre os paradigmas de desenvolvimento humano e cultural? Essas foram algumas das questões que guiaram as reflexões.
Para tanto, foram convidados à mesa o mediador Eduardo Balan, da ALACP (Argentina), Paloma Carpio, da Red Latinoamericana de Arte para la Transformación Social (Peru) e Dan Baron, do IDEA
“O grito da transformação social deve vir de dentro e não de fora”, iniciou Dan, que colocou também que isso significa que as culturas locais são o principal elemento da resistência e transformação. Ele apresentou sua experiência com o grupo de teatro da polícia militar de Salvador, um grupo que vem reinventando as relações entre polícia e cidadão, colocando de maneira ousada e surpreendente que o policial poderia ser um arte-educador. Na sequência, a peruana Paloma Carpio falou de grupos que resgatam a cultura ancestral solidária de seu país e da eficácia desses movimentos no combate a violência da cultura caudilhista dominante. Ela citou experiências como o Festival de Círculo de intercâmbio cultural entre diversos países, o Projeto Voluntariado Juvenil Intercultural Através da Arte e o Festival de Belém, todos realizados no Peru e que tem consolidado novos espaços públicos comunitários.
* coordenador do Cineclube Pólis
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