A busca por alternativas na discussão com Boaventura Souza Santos

Participação Cidadã, O que é Direito à Cidade?, Reforma Urbana, Democracia e Participação
31 de janeiro de 2009

Em meio às várias atividades realizadas na manhã dessa sexta, 30 de janeiro, Boaventura de Souza Santos colocou uma importante discussão sobre as perspectivas políticas para o mundo e, especificamente, para os próximos Fóruns Sociais Mundiais. Essa conferência foi feita diante de centenas de pessoas de várias idades, homens e mulheres, brasileiros e estrangeiros, reunidas na Tenda Multiuso, vizinha à Tenda da Reforma Urbana.

Boaventura disse que analisou os relatórios do Fórum Econômico de Davos e observou espantosas semelhanças com as análises e críticas formuladas nas edições anteriores do Fórum Social Mundial. Distinguindo esses dois fóruns, ele se incluiu neste último e disse que os altermundistas anteciparam os acontecimentos atuais relacionados com as crises globais. Porém, essas semelhanças podem ser traidoras. Para os participantes do Fórum Econômico, as soluções para os problemas colocados por essas crises é mais capitalismo. Para nós que estamos em Belém, as soluções passam por ações urgentes e mudanças civilizacionais para enfrentarmos os desafios profundos colocados pelas crises sistêmicas globais. São ações que devem ser postas em prática agora, senão poderá ser tarde demais.

Apesar de urgentes, é preciso pensar, sentir e atuar a longo prazo. Em geral, a lógica do capitalismo, voltada para aumentos cada vez maiores do consumo insustentável, não considera grandes períodos de tempo. Isso é grave, pois compromete as bases e condições para a continuação da vida no mundo. O rumo é sair dos limites do curto prazo e escapar da dinâmica em que, para alguém ganhar, outros tem que perder. É possível ter um desenvolvimento que não siga essa dinâmica baseada no ganha-perde?

Boaventura chamou a atenção para as distâncias entre os tradicionais discursos da esquerda e os grandes movimentos sociais da contemporaneidade levados a cabo por negros, índios, mulheres, entre outros grupos sociais com modos de vida diversificados que, até pouco tempo atrás, não estavam visíveis em processos políticos. Grupos que faziam parte da “sociologia das ausências” e hoje realizam práticas transformadoras e vivem numa ecologia de saberes diversificados que demandam esforços internos para desaprender algumas coisas e aprender que não podemos separar sujeito de objeto.

Como na nova constituição equatoriana que inclui as visões indígenas do mundo, a natureza não é um objeto externo e separado das pessoas e sociedades. É parte da vida das pessoas e das sociedades como Pacha Mama, a Mãe Natureza. As mudanças passam por revoluções internas. “As utopias se fazem nas práticas”, finalizou Boaventura.

Em relação aos Estados, Boaventura diz que são fundamentais na condução econômica. Aponta para a necessidade de transformá-los com aprofundamentos democráticos em vários campos. Chama a atenção para o fato de que a democracia participativa avançou em experiências realizadas em níveis locais, mas caminhou pouco em escalas nacionais. Daí a importância dos movimentos sociais continuarem com suas ações e manifestações públicas, com suas lutas nas ruas.

Segundo Boaventura, temos que aproveitar esse momento de desestruturação do capitalismo para construir novas alternativas. E não construímos alternativas somente com a razão fria. Precisamos da nossa razão quente e emocional, pois mais da metade da humanidade não são sujeitos dos seus próprios direitos humanos.

* pesquisador da área de urbanismo do Pólis

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