“Rolezinhos” são expoentes da desigualdade brasileira
O ano de 2013 não acabou para o Brasil. Os protestos populares, manifestações e o descontentamento da população com a omissão do Estado na garantia de alguns direitos fundamentais voltou a aparecer no início de 2014 em manifestações populares conhecidas como “rolezinhos”.
Os “rolezinhos” são atos que vem reunindo milhares de jovens (em sua maioria, negros, pobres e moradores das periferias) em movimentos de ocupação de grandes centros de consumo e shopping centers.
Os shoppings já foram alvo de protestos no Brasil, entre eles, os beijaços, realizados em função da expressa homofobia de alguns estabelecimentos.
Os rolezinhos, no entanto, tem chamado a atenção por serem fruto de um movimento que busca ocupar os paraísos do consumo que, em tese, são espaços abertos, mas cuja opressão sempre foi velada e invisível.
As “regras do jogo”estava colocadas, mas não explicitadas. Em tese, qualquer pessoa pode entrar em um shopping center, mas os “rolezinhos” mostraram que não.
Alguns estabelecimentos escancararam estas regras e proibiram os jovens de entrarem, construindo absurdas regras a que pode ser submetido qualquer cidadão, como a averiguação (ou ‘revista’) na entrada.
Além de dar visibilidade ao racismo e ao higienismo velados da sociedade brasileira, os ‘rolezinhos’ escancaram a brutal desigualdade existente no país. Em sua maioria, os shoppings são erguidos em regiões próximas às moradias destas populações que, durante toda vida, são incentivadas a consumir, o que aumentou recentemente com políticas de crédito e incentivo ao consumo.
Assustados com a ocupação dos templos de consumo pelos jovens negros, pobres e moradores de periferia, as elites comerciais erguem seus castelos e contam com o apoio do Estado na opressão ao movimento.
Casos de mortes, espancamentos e violência policial são relatados. E a sociedade se mobiliza para pensar a relação com estes espaços.
Outro elemento que os rolezinhos trazem e que guarda semelhanças com os movimentos de 2013 são as articulações que acontecem sempre pelas redes sociais. A despeito de as redes (em tese) serem neutras, alguns estabelecimentos já conseguiram tirar do ar convocações para encontros e mobilizações alegando a manutenção da ordem.
Ainda é cedo para fazer uma análise pormenorizada destes movimentos e ainda mais cedo para saber que legado eles vão deixar. Mas o fato é que eles expõem para a sociedade brasileira e para o mundo as desigualdades e o racismo que são historicamente invisibilizados no Brasil.
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