Pontão Polis inicia atividades no Congresso Latinoamericano Cultura Viva Comunitária
Integrando a programação do 1º Congresso Latino-americano Cultura Viva Comunitária, o Pontão de Convivência e Cultura de Paz do Instituto Pólis realizou nesta segunda a primeira parte do Círculo de Visão “Cultura de Paz, Convivência e Interculturalidade”, na sede da UMSA – Universidade Mayor de Sans Andrés, em La Paz (Bolívia).
Com aproximadamente vinte participantes, representantes do Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Peru e Paraguai contaram suas histórias e impressões sobre a cultura de paz.
Após uma breve apresentações das ações do Pontão, que ao longo desses três anos realizou encontros em diversos pontos de cultura brasileiros levando e propondo a compreensão da Cultura de Paz, a dinâmica do círculo ganhou novos contornos.
Divido em três momentos, o círculo foi iniciado com uma dinâmica de tradição griot para apresentação dos nomes. “Vamos cantar as vogais de nossos nomes e dançar ao som delas” propunha a facilitadora, psicóloga, atriz e arte-educadora Martha Lemos (Pontão Polis). Aos poucos o grupo se familiarizava com os sotaques latinos e os tropeços linguísticos dos brasileiros que arranhavam o famoso portunhol.
No segundo momento, o grupo plantou no centro da roda tarjetas coloridas que diziam qual era o fazer cultural de cada um. Uma vela, uma ametista, uma esmeralda e um incenso dispostos ao centro do círculo traziam a sacralidade daquele encontro, nas palavras de Hamilton Faria “este encontro com a compreensão da cultura de paz só poderia ser em La Paz”.
Nas palavras do Humberto Mancilla “La Paz nos convida a olhar para o passado no entanto, estamos sendo convidados a olhar para o futuro”.
Os agentes de paz
“O que conecta o nosso fazer cultural, social e cotidiano com a construção da cultura de paz?”, a provocação feita por Faria trouxe ao círculo a dimensão simbólica para construção e entendimento da cultura de paz. Nas palavras do agrônomo brasileiro Macel Madureira “faz parte da minha pessoa e do meu cotidiano buscar a cultura de paz no meu trabalho”. Para o boliviano Humberto Mancilla “cultura de paz é tomada de consciência, trabalho de preservação da memória.”
Entre as percepções da busca pelo resgate e consciência da ancestralidade, da felicidade e da harmonia na diversidade, Faria explicou que a cultura de paz é uma de paradigma onde se faz necessária a reconstrução da linguagem, pois é através dela que se dá composição de um panorama simbólico do corpo e da sociedade.
A busca dos agentes e multiplicadores da cultura de paz é mudança dos padrões das relações com a vida, saindo dos modelos de relacionamentos pautados na violência.
Raquel Willedira destacou que a maior complexidade se dá na radicalização da diferença e a construção do desconhecimento do outro, “como afirmar a diferença na construção dos direitos à vida?”, refletia a brasileira.
Re Takeo, partilhou a experiência do Programa VAI, da Secretaria Municipal de São Paulo, ao criar um espaço democrático e de fomento às iniciativas das juventudes da periferia paulista. “A possibilidade desses jovens produzirem e se articularem culturalmente, fez com que fossem criados espaços de produção simbólica e de cultura de paz”, afirmou a brasileira.
Dando um panorama da incorporação da cultura de paz nas políticas públicas, Faria destacou que alguns Estados já tem projetos que visão o bem viver, a preservação da memória e olhar à vida em todas as suas manifestações. “Estamos num momento de transição do antropocentrismo para o biocentrismo, o direito a vida”, afirmou Faria. Entre os exemplos, destaca-se a criação da Lei da Mãe Terra (Bolívia), Os direitos à natureza (Equador) e os projetos brasileiros Florestania e Hidrocidadania (Brasil).
Martha Lemos destacou que uma das premissas da cultura de paz não é a omissão ou alienação das diferenças e dos conflitos, faz parte dos princípios éticos da cultura de paz criar espaços onde o olhar, a escuta e a manifestação da diversidade seja respeitada e integrada. “O que se busca, como princípio ético, é a unidade na diversidade”, explicou Lemos.
Silêncio, escuta e os caminhos
Findando o primeiro dia do encontro, o grupo foi convidado a sintetizar o encontro em silêncio, dança e som. “Vamos trazer a experiência do silêncio e expressar esse primeiro encontro com os nossos corpos, nos afinando com o mote do Congresso: o de descolonizar o corpo”.
Ao som de um tambor e de cantos xamânicos de louvor a Pacha Mama (Mãe Terra), entoados pela boliviana Luz Adriana e do didgeridoo (flauta indígena australiana) tocado pela argentina Ludmila Rapuport o grupo realizou a última dinâmica do encontro.
Com os olhares e os corpos voltados para o centro da roda, o grupo partilhou as imagens e impressões suscitadas neste primeiro encontro. Entre as falas, a imagem de uma árvore ressoou em uníssono. “Isso é só o começo”, afirmou a Luz Adriana.
Dando continuidade às atividades do Círculo de Visão de Cultura de Paz, na terça-feira, às 10h, acontecerá o ultimo encontro onde serao apontados e apresentados os caminhos para o estabelecimento da cultura de paz.
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