O peso político da urbanização de favelas

“Oficina Favelas” discutiu formas de intervenção em assentamentos precários com exercício prático no Jardim Jaqueline
O Jardim Jaqueline, na Zona Oeste de São Paulo, abriga muitos problemas, como a ausência do saneamento básico, ruas estreitas e de difícil acesso, carência de espaços coletivos, como praças e parques, e falta de dispositivos públicos. Além disso, para conseguir a regularização da área, os moradores se organizaram numa associação que luta há mais de uma década frente ao poder público para a implementação da regularização fundiária. Esta, agora, tramita na Prefeitura de São Paulo, porém, mesmo depois de 16 anos, a regularização ainda não foi efetivada.
Sabendo a importância de um exercício propositivo de planejamento urbano e de políticas públicas para a urbanização completa do Jardim Jaqueline, a Oficina Favelas reuniu estudantes de graduação de diversos cursos, como Filosofia, Ciências Sociais, Serviço Social, Direito, Gestão de Políticas Públicas e Arquitetura e Urbanismo, para debater e entender o peso político da urbanização de favelas, além de difundir práticas e estudos na atuação em assentamentos precários. O evento ocorreu do dia 20 ao dia 29 e foi organizado pelo GE Favelas e pelo LabLaje, um grupo de pós-graduandos pesquisadores da FAU-USP, com apoio do Instituto Pólis, LABHAB, LABCidade, Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico e Revista Contraste.
A urbanização não implica somente na mudança espacial do local, mas também na transformação do uso dos espaço coletivos, da destinação e do tratamento dos resíduos sólidos, do saneamento básico, do sistema habitacional e do convívio entre os moradores. Isso atrelado ao trabalho social e à integração da favela à cidade e aos serviços básicos. Este processo está além das mudanças estruturais, inclui a modificação da dinâmica social e política de locais que refletem as desigualdades da sociedade.

Bete Silva, moradora do Jardim Jaqueline, assistiu às apresentações dos trabalhos finais da oficina
Partindo desse ponto, cerca de duzentos participantes tiveram três dias teóricos, incluindo duas palestras e quatro mesas de debates, entre eles “Os olhares sobre a favela” e “Práticas de intervenção”. Já os outros seis dias da oficina, delineou-se na imersão no Jardim Jaqueline, com encontros no Centro de Referência em Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável, que fica ao lado da favela. Foram realizadas duas visitas acompanhadas por moradores apresentando o local, os quais contribuíram diretamente com as problematizações que vieram a fazer parte do repertório dos estudos propositivos dos graduandos.
Seis grupos de participantes se debruçaram sobre os temas: saneamento básico, melhorias habitacionais, resíduos sólidos, adensamento populacional, espaço público e coletivo. Reforma do campo de futebol, construção de parques e praças, alargamento de ruas e calçadas e paisagismo foram algumas das propostas colocadas pelos alunos. Tais propostas viriam a contribuir com o lazer, a promoção de novas fontes de renda e mais autonomia dos moradores. Apesar do objetivo da oficina ser o exercício propositivo, a discussão e seu desenvolvimento no âmbito da graduação, as propostas poderiam culminar em resultados concretos, novas possibilidades de projetos e intervenções futuramente, ultrapassando a o espaço da oficina.
Anterior / Próximo