Mídia e gênero e democratização dos meios marcam presença em formação do Programa Jovem Monitor/a Cultural
O Programa Jovem Monitor/a Cultural (PJMC), desenvolvido pelo Instituto Pólis, deu prosseguimento ao eixo de Juventudes e Direito à Comunicação no dia 23 de março recebendo em sua formação teórica jornalistas para discutirem temas como mídia e gênero e democratização dos meios de comunicação.
No período da manhã, estiveram presentes as jornalistas Terezinha Vicente, da Rede Mulher e Mídia e da Ciranda Internacional da Comunicação Compartilhada, e Juliana Gonçalves, do Centro de Estudos das Relações do Trabalho e Desigualdades (CEERT) e integrante da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (COJIRA).
Terezinha iniciou o encontro mostrando como se constituíram na cultura hegemônica o poder da informação e a opressão das mulheres, apresentando os contextos históricos do direito à comunicação e de como as mulheres foram enxergadas em determinados períodos da história. Foi feito, também, um resgate do movimento feminista e de como os meios de comunicação retratam as mulheres.
Nas telenovelas, Terezinha identificou que as personagens “heroínas” são retratadas sob aspectos de maternidade, família, religiosidade e sacrifício. Enquanto as retratadas como pessoas de sexualidade livre, são as “vilãs”, que têm como destino na trama a morte, a solidão ou a “loucura”. Já nas propagandas, existe uma beleza única. São apresentadas somente mulheres que refletem o padrão de beleza eurocêntrico dominante: brancas e magras, geralmente heterossexuais. Terezinha citou as propagandas de cerveja como exemplo da mídia para hiperssexualizar o corpo feminino.
“Gostaríamos que nossa televisão mostrasse mulheres de todos os tipos, de todas as orientações sexuais, que mostrasse mais nossa mulher real”, afirma.
Juliana Gonçalves conversou com os/as jovens sobre a construção da mulher negra na mídia de massa. Segundo ela, a mídia não adota uma perspectiva de raça, etnia e gênero. “Ela [a mídia] invisibiliza de forma sistemática a contribuição e a participação das mulheres, em especial das negras, indígenas, lésbicas e transexuais. Isso se dá por uma combinação de fatores como racismo, sexismo e etnocentrismo”.
De acordo com Juliana, a mulher negra retratada hoje pela mídia segue estereótipos historicamente construídos e se limita ao imaginário exótico. Ela identifica alguns perfis pejorativos: a “mulata” (termo derivado da palavra “mula”), cuja sexualidade é exacerbada; a “mãe preta”, sempre disponível para servir; e a “barraqueira”, que resolve os conflitos na força e não usa o intelecto. “Esses estereótipos acabam limitando o lugar social da mulher negra”, disse.
Juliana, que também participa do Núcleo Impulsor do Estado de São Paulo da Marcha das Mulheres Negras, falou sobre a Marcha das Mulheres Negras 2015 que será realizada no dia 18 de novembro, em Brasília. “Essa marcha pretende unir a mulher negra e pautar toda nossa trajetória de resistência e ancestralidade”.
Em seguida, Terezinha e Juliana desenvolveram uma atividade com os/as jovens monitores/as na qual puderam dizer como se viam representados/as pela mídia e como gostariam que fosse essa representação.
Exercitando o diálogo
Michelle Prazeres, mestre em Comunicação e Semiótica (PUC-SP), doutora em Educação (FE-USP) e integrante do grupo Intervozes, esteve no período da tarde com os/as jovens e desenvolveu uma atividade de espectograma para mapear os hábitos de consumo e de produção de informação/comunicação. “Tentamos entender com que frequência eles [jovens] acessam os meios de comunicação pra se informar e se comunicar”.
A jornalista, que também é professora da Faculdade Cásper Líbero, falou sobre a construção do direito à comunicação e sobre a diferença entre liberdade de expressão, direito à comunicação e democratização dos meios.
“Se tivesse que construir uma escala, eu diria que a liberdade está ligada mais aos direitos individuais, a liberdade de se expressar. Quando falamos em democratização, falamos em acesso pra todo mundo. E quando falamos em direito, falamos em o Estado garantir que a sociedade reivindique”, explica.
Após um debate, Michelle conduziu uma dinâmica com base numa metodologia de tribunal, onde os/as jovens foram divididos em grupos (acusação, defesa e júri) e, a partir de dois casos de violação de direitos humanos na mídia, puderam expor seus argumentos, que foram levados para uma roda de conversa para que fosse exercitado o diálogo.
“Queríamos que eles [jovens] chegassem à conclusão de que é muito importante estar aberto ao argumento e ao lugar do outro, ainda que precisemos disso para reafirmar a nossa posição nesse processo tão importante hoje em dia, e que sempre foi, que é o de estabelecer diálogos, principalmente quando falamos sobre direitos”, finaliza.
Confiram vídeo da atividade:
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