Carta de Brasília – Seminário Agricultura Urbana e Periurbana
Para promover a troca de experiências em produção de alimentos nas cidades e elaborar diretrizes para a regulação da atividade, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) promoveu o III Seminário Latino-Americano e Caribenho de Agricultura Urbana, nos dias 5 a 7 de novembro de 2012.
Ao longo do seminário, representantes da sociedade civil e de governos municipais e estaduais apresentarão experiências bem-sucedidas que tiveram apoio do MDS. Na Conferência de abertura Christiane Costa, do Instituto Pólis e membra do CONSEA, falou, entre outras coisas, sobre a relação da agricultura urbana com a saúde, com a tecnologia e com o território.
Confira aqui os documentos de apresentação do Seminário.
Ao final foi elaborada uma carta com os principais pontos discutidos no encontro:
CARTA DE BRASILIA
SEMINARIO DE AGRICULTURA URBANA E PERIURBANA
BRASILIA, 05-07 DE NOVEMBRO DE 2012
“O III Seminário Latino-Americano e Caribenho de Agricultura Urbana e Periurbana realizado em Brasília, no período de 05 a 07 de novembro de 2012, evidenciou o caráter estratégico da rede de interlocução pautada nas diversas experiências desenvolvidas nos países participantes – Cuba, México, Argentina e Brasil, constituindo-se em um importante avanço no reconhecimento das multifuncionalidades e potencialidades da agricultura urbana e periurbana, e apontando desafios comuns, inerentes a construção de uma Política Nacional de Agricultura Urbana e Periurbana intersetorial, que dialogue com as temáticas da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, Estatuto das Cidades, Política Nacional de Reforma Agrária, Política Nacional de Resíduos Sólidos, Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, Política Nacional de Educação e Política Nacional de Abastecimento Alimentar, dentre outras.
Estiveram representadas cerca de 30 instituições da sociedade civil nacionais e internacionais, além de representantes governamentais, Universidades Públicas, Frente Parlamentar de SAN, CONSEA e instituições de pesquisa, para as atividades que envolveram painéis, debates e trabalhos em grupo acerca dos temas: realocação da produção e do consumo nas cidades; agricultura urbana, periurbana e desenvolvimento das cidades, estratégias de produção sustentável para o autoconsumo e comercialização; experiências de agricultura urbana, periurbana, abastecimento alimentar e articulação com Equipamentos Públicos; e, potencialidades e desafios para a construção de uma Política Nacional de Agricultura Urbana e Periurbana.
Como principais contribuições destacou-se a multifuncionalidade da agricultura urbana e periurbana, sua forte relação com as práticas agroecológicas, com a produção de compostagem a partir de resíduos orgânicos, melhoria da paisagem e limpeza de áreas urbanas, sustentabilidade do meio ambiente e redução dos impactos da urbanização, possibilitando a presença de mais áreas verdes nas cidades, melhorando a qualidade do ar, diminuindo a impermeabilidade do solo, desenvolvimento de tecnologias sociais, manejo de áreas de vegetação nativa, promoção da economia solidaria e geração de renda, estruturação de redes de produção, consumo, saúde, medicina popular, soberania e segurança alimentar e nutricional, resgate e reforço das identidades culturais, organização popular pautada na promoção do associativismo, cooperativismo e empreendedorismo, troca de saberes e experiências, processos educativos desenvolvidos a partir dos programas e projetos de hortas escolares, dentre outras.
A produção de alimentos nas cidades promove a estruturação de circuitos curtos locais de produção-abastecimento-consumo, aumentando a oferta de alimentos mais frescos e saudáveis tanto para o autoconsumo como para a comercialização, oportunizando o acesso a alimentos com menores custos, e se contrapondo ao padrão de produção e consumo de larga escala.
A agricultura urbana e periurbana se configura como uma das formas de promoção das ações de educação alimentar e nutricional, valorizando a diversidade da produção, da cultura e dos hábitos alimentares locais, além de fomentar o abastecimento social e promover a alimentação adequada e saudável, com vistas a garantia do direito humano a alimentação adequada.
Reconhece-se que as práticas de agricultura urbana e periurbana vêm sendo desenvolvidas no mundo, especialmente no Brasil, AL e Caribe, por agricultoras e agricultores, há muito tempo. As organizações da sociedade civil passam a ter um papel relevante no Brasil, principalmente, a partir da década de 70/80, destacando as suas ações no que diz respeito a organização, capacitação, fomento, luta pela preservação dos espaços urbanos contra o avanço da especulação imobiliária, luta contra a fome, pelo uso sustentável do meio ambiente.
Essa atividade passa a ser incorporada na agenda de políticas publicas do Brasil, a partir dos anos 80, com a iniciativa da implantação de hortas, por algumas prefeituras municipais. No âmbito do governo federal, as primeiras ações se iniciam a partir de 2003 em consonância a um conjunto de políticas de SAN. Foram diversas ações financiadas, entre CAUPs, hortas comunitárias, quintais produtivos, feiras populares, sendo que atualmente o Programa Agricultura Urbana e Periurbana contempladas no Plano Plurianual 2012-2015 e no Plano Nacional de SAN.
Principalmente a partir da dificuldade dos agricultores acessarem as políticas públicas voltadas para agricultura familiar, apareceu a necessidade de avançar na institucionalização das ações desenvolvidas e no reconhecimento do trabalho dos agricultor urbano e periurbano e das instituições da sociedade civil e órgãos públicos.
É fato que é necessário um debate maior na sociedade para a constituição de uma Lei Geral da AUP e mesma na elaboração de uma Política Nacional de AUP, destacando o papel da CAISAN e do CONSEA nesta construção. No entanto, destaca-se o protagonismo do MDS que está no movimento de elaborar uma Portaria para regular o seu Programa e Política de AUP, um primeiro passo para institucionalização e efetivação das ações que já vem sendo desenvolvidas. Ao mesmo tempo, faz se necessário rever e melhor utilizar leis e regulamentações já estabelecidas no âmbito: fundiário (INCRA), do Estatuto da Cidade e dos Planos Diretores, da comercialização dos itens de origem animal, entre outros.
O III Seminário Latino-Americano e Caribenho de Agricultura Urbana e Periurbana apontou como desafios os seguintes pontos:
· Desenvolvimento de tecnologias sociais apropriadas para as especificidades realidade da agricultura urbana e periurbana;
· Intersetorialidade, articular os programas existente, no âmbito da esfera nacional, neste caso é fundamental o papel da CAISAN, e também no âmbito das outras esferas;
· Superar a escassez da água e espaços para produção;
· Atualização dos Planos Diretores e inclusão de Zonas Especiais de SAN;
· a contaminação de solo, o que leva ao uso de métodos de plantios suspensos, como o organopônico;
· Necessidade de potencializar a atuação em rede das instituições, CAUPs e entes federados que desenvolvem ações de AUP;
· Assegurar assessoria técnica especifica e capacitação continuada em agroecologia e formação de agentes comunitários locais.
· Apoio ao escoamento, processamento, beneficiamento e comercialização de produtos agroecologicos urbanos em mercados institucionais;
· Definir interlocutores municipais com as atribuições de articular e operacionalizar a política de SAN, com a participação efetiva da sociedade local. Definir estruturas de gestão: conselhos, etc. e controle social; inlcusao das base, encontros locais, regionais, etc.
· Promover encontro nacional da Política de AUP, abrangendo redes locais, sociedade civil, universidades publicas CAUPs, agricultoras e agricultores, urbanos e periurbanos
· Aprofundar a relação Brasil-Cuba-Mexico-Argentina e demais países, sobre política de AUP;
· Promover financiamento continuo no âmbito da AUP: dotação orçamentária especifica, na forma de convenio e no aprimoramento destes, articulação com organismos internacionais,
· Promover novos diagnósticos das praticas de AUPs;
· Capacitação e mobilização dos atores para autonomia e sustentabilidade dos envolvidos ema AUP;
· Pautar a AUP nas diversas conferencia (igualdade racial, AS, SAN, saúde, Saude indígena, ….)
Desafios Institucionais para 2013
· ARTICULAÇÃO DO GT DE AUP NO CONSEA:
· PREPARAÇÃO DO ORÇAMENTO DO MDS A ESTRATEGIA DE AUP/ DISCUSSÃO PREVIA DOS EDITAIS,
· INSERCAO NOS MUNICIPIOS DOS PLANOS DIRETORES,
· ENCONTRO Nacional de Agricultores e Agricultora de AUP em 2013;
· MESA TECNICA PARA DISCUSSÃO DA CONTINUIDADE DA AÇÃO DE CAUPS:
DESAFIOS INSTITUCIONAIS DE MEDIO E LONGO PRAZO:
· Financiamento;
· Plano de SAN ate 2015: AUP esta contemplada.
· Capacitação e mobilização: PROEXT, economia solidaria, MEC. “
Acesse aqui os documentos de apresentação do Seminário.
Programação e participantes:
III Seminário Latino-Americano e Caribenho de Agricultura Urbana e Periurbana
05, 06 e 07 de novembro/2012
05 de novembro de 2012 – 1° dia |
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09h00 – 10h00 |
Mesa de Abertura Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome |
10h30 – 12h30 |
Conferências de abertura: Realocação da Produção e do Consumo nas Cidades Moderação: João Augusto de Freitas – DEISP/SESAN Palestrantes convidados: Maya Takagi – Secretária Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional/MDS, na perspectiva da Segurança Alimentar e Nutricional Maria Caridad Cruz – Cuba, viabilização da AUP nas Cidades |
Intervalo para almoço |
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14h00 – 16h00 |
Painel 1: Agricultura Urbana, Periurbana e Desenvolvimento Urbano das Cidades (Parte I) Moderação: Professor Vicente Rocha (UFG) Palestrantes convidados: Sec. Geraldo Magela – Secretaria de Desenvolvimento Urbano do GDF Silvano Silvério da Costa – Ministério do Meio Ambiente |
16h00 – 16h20 |
Intervalo |
16h20 – 18h00 |
Painel 2: Agricultura Urbana, Periurbana e Desenvolvimento Urbano das Cidades (Parte 2) Moderação: Nísia de Oliveira Ferrone – Red Aguila Palestrantes convidados: Silvana Mariani – Representação da Argentina |
06 de novembro de 2012 – 2° dia |
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08h30-10h30 |
Painel 3: Estratégias de Produção Sustentável para o Autoconsumo e Comercialização Moderação: Marco Dal Fabro – DEFEP/SESAN Palestrantes convidados: Fernande Antunes Fernandes – Universidade Estadual de Maringá/PR Representação de Cuba |
10h30 – 10h45 |
Intervalo |
10h45 – 12h15 |
Painel 4: Experiências de Agricultura Urbana, Abastecimento Alimentar e articulação com equipamentos sociais Tadeu Pereira – DEISP/SESAN/MDS |
12h15 – 14h00 |
Almoço |
14h00 – 16h00 |
Painel 5: Potencialidades e Desafios para construção de uma política pública de Agricultura Urbana Moderação: João Augusto de Freitas – DEISP/SESAN Palestrantes convidados: Sônia Novaes – Associação Brasileira de Reforma Agrária |
16h00 – 16h15 |
Intervalo |
16h15 – 17h30 |
Debate em Plenária sobre o Painel 5 |
07 de novembro de 2012 – 3o dia |
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08h30 – 10h30 |
Trabalhos em Grupo Objetivo: Explanar sobre os desafios colocados e pautar as questões que serão debatidas em grupos em torno dos elementos para a construção de uma política pública de AUP. |
10h30 – 10h45 |
Intervalo |
10h45 – 12h00 |
Apresentação dos Trabalhos em Grupo Debate Consolidações |
12h00 – 14h00 |
Almoço |
14h00 – 16h00 |
Plenária de Encerramento Moderação: João Tadeu Pereira Presenças: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome |
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