Bené Fonteles e o Nordeste reinventado na imagem gravada
Promovida pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, a exposição Nordeste Reinventado na Imagem Gravada tem a participação de 27 gravadores e cerca de 200 criações: Mestre Noza, Francisco Almeida, J. Borges, Sumiço, José Altino, João Pedro do Juazeiro, Hamurabi Batista, e muitos outros. A mostra, com curadoria de Bené Fonteles, segue até o dia 12 de outubro, no Centro Cultural Vergueiro.
Confira abaixo o texto de Hamilton Faria sobre a exposição:
“Cultura é reinvenção. Um diálogo de raízes e escolhas; pois não existe cultura pura, ela é intercultural por natureza. Mesmo com a destruição dos indígenas, que eram seis milhões quando “descobriram” o Brasil e hoje cerca de 800 mil, ainda somos muito indígenas em nossa formação.É só vermos a contribuição indígena e também negra à nossa língua, à comida, à oralidade etc. Estes são fatores estruturantes da cultura. Assim também o Nordeste, através de seus artistas, se atualiza, conversa com a mitologia africana, grega e outras e com a própria sociedade de consumo, através dos cordéis e das xilogravuras.
Os artistas nordestinos, através da xilogravura, reinventam o real de forma fantástica; herdeiros da arte gráfica do período da Idade Média conversam com a contemporaneidade e ampliam-na ainda mais, trazendo para o seu centro a tradição e as raízes. Recordo do Mestre Didi – “evoluir sem perder a essência”. Estes artistas enriquecem a arte. E como Bené mesmo fala – não são artistas populares, são artistas. Rotular de arte popular, naif, regional, local, jovem, periférica etc. foi sempre uma forma de deslegitimar o artista e compará-lo com uma arte maior, pretensamente mais culta e mais evoluída, do ponto de vista da técnica e das percepções do mundo. Ledo engano: estes artistas são enormes, inspirados pelo seu próprio legado, seus ícones como Luiz Gonzaga e Patativa do Assaré, e também por imaginários de outros povos .
Bené Fonteles (Benedito José Fonteles), através de sua exposição, a partir de estéticas da melhor qualidade também promove esta reinvenção cultural nordestina – a partir de suas artes estes mestres dialogam com as várias culturas ancestrais e contemporâneas.
O sentido de equilíbrio na apresentação das xilogravuras e da exposição como um todo é impressionante. Aliás, isso sempre me tocou nas curadorias de Bené Fonteles, artista total – da percepção espiritual da vida à estética da “entidade” (e não identidade) brasileira, conforme gosta de falar; da relação dialógica com o público, até a simplicidade sofisticada de sua arte. É impossível separar Bené de sua arte, ele mesmo é parte imprescindível de suas exposições.
Sugerimos para a Secretaria de Cultura que a exposição circule em São Paulo, maior cidade nordestina do país, no Centro Cultural da Cidade Tiradentes e nos CEU´s.
Bené Fonteles, curador da exposição, “Xilogravura Nordestina – Trajetória e Evolução” doou a coleção para a Coleção de Arte da Cidade, sediada no CCSP.
Assim, os artistas “beneditos” continuarão entre nós.
Evoé!”
Faria é poeta, autor de mínimoIMENSO (Casa dos Omaguás, 2013) e Haikuazes (Escrituras, 2006) entre outros.
Exposição “Nordeste Reinventado na Imagem Gravada”
Quando: De 26/7 a 12/10 – Terça a sexta, das 10 às 20h; sábados, domingos e feriados, das 10 às 18h;
Onde: Centro Cultural de São Paulo – Rua Vergueiro, 1000 – Piso Caio Graco;
Quanto: Grátis;
Leia mais em: http://www.centrocultural.sp.gov.br/programacao_exposicoes.html
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