Convivência, Cultura de Paz e Interculturalidades na América Latina
O último dia do Círculo de Visão “Cultura de Paz, Convivência e Interculturalidade”, realizado no dia 21 de maio, pelo Pontão Pólis durante o 1º Congresso Latino-americano Cultura Viva Comunitária reiterou o compromisso do projeto em compartilhar, ouvir e vivenciar novas histórias para construção de uma rede de paz.
Os representantes latinos-americanos de olhos fechados seguiam as orientações de Martha Lemos: “em dupla vamos sentir e ouvir as histórias que as mãos do outro nos contam”. Após o exercício, o grupo realizou uma escuta poética, execício e metodologia criado pelo Pontão Pólis, onde de olhos fechados os participantes ouvem pequenos textos poéticos. Entre as diversas frases, Hamilton Faria provocou a sensibilidade do grupo com “para quem viaja em direção ao encontro do sol é sempre”(Helena Kolody) e ” morava na alegria nunca mais morreu” .
Seguindo com dinâmica de escutas e partilha das experiências dos participantes e as relações delas com a prática da Cultura de Paz, o grupo seguiu para redação da carta proposta ao Congresso sobre Cultura de Paz e Cultura Viva Comunitária.
Entre os principais pontos trazidos com as experiências individuais, a colombiana Luz Adriana destacou a necessidade se criar espaços onde a soberania alimentar a partir da “preservação dos grãos, da terra e da economia ancestral”. Martha Lemos destacou que uma das pilastras da prática de cultura de paz passa pelo fortalecimento da economia solidário e do comércio justo. “O tema cultura de paz é transversal, dialoga com todos os setores, sentimentos e expressões sociais”, afirmou Lemos.
A pauta para redação da carta, tinha dois eixos propostos pela organização do congresso, o primeiro deles era demandas e propostas aos estados para criação de políticas públicas para cultura viva comunitária e a cultura de paz, o boliviano Humberto Maricilla destacou que um dos problemas para a criação de políticas públicas era “desconhecimento do poder público das demandas sociais. As pessoas vão às ruas, protestam, no entanto, ainda não existe um espaço para que elas sejam escutadas”.
Lemos destacou que os trabalhos e encontros para multiplicar a cultura de paz são baseados na escuta ampliada “nossa contribuição como agentes da cultura de paz no Pontão pólis é criar e expandir ações em rede, em diálogo com as novas mídias, com a compreensão do direito à cidade e ao bem viver tendo a arte como meio de expressão”.
Raquel Willadino, falou sobre a experiência do Observatório de Favela, na comunidade do Complexo do Alemão (Brasil- RJ), em criar ações de publicidade afirmativa, invertendo a lógica da carência para encontrar os pontos de potência na comunidade, “construindo e integrando a favela numa perspectiva de corpo, um lócus, da cidade e não apartando-a”.
Hamilton Faria destacou que em alguns estados ja existe a preocupação e a inserção de meios que legitimam o espaço para reflexão da cultura de paz como política pública e como um espaço de formação do individuo, “em São Paulo existem a UNIPAZ, UMAPAZ, o Conselho Parlamentar da Cultura de Paz, o Fórum de Cultura de Paz e a Associação Palas Athenas que realizam encontros públicos para falar sobre o tema. O desafio é construir plataformas dentro do Estado que transformem as práticas de cultura de paz feitas nas comunidades em política pública, devemos ter um Ministério de Paz que dialogue com educação, justiça, cultura, meio-ambiente e etc”.
Como segundo eixo para reflexão e construção da carta, “propostas de desafios da Cultura de Paz em consonância com a Cultura Viva Comunitária”, o peruano Flávio Beltran destacou que “o ressentimento histórico era um desafio a ser superado pelas populações latino-americanas. A compreensão do respeito a si e ao conhecimento de suas origens e diversidade cultural são temas que permeiam a cultura de paz na América Latina, a melhor forma de expressá-los é através da arte”.
Ao final do encontro, o grupo realizou uma roda de escuta ancestral, onde cantos e sons em honra e reconhecimento das forças ancestrais se fez presente através dos instrumentos xamânicos (tambor, maracá e didgeridoo). Num círculo de devoção e reconhecimento da interculturalidade promovida nos dois dias se deu por encerrado essa primeira participação do Pontão Pólis no Congresso Cultura Viva Comunitária, em La Paz. Nas palavras de Martha Lemos: “a participação do Pontão foi uma onda no meio deste oceano. A cultura de paz é uma transversalidade que permeia todos os eixos dos encontros deste congresso. Há muito por construir, por fazer e empreender entre os agentes culturais, gestores, coletivos e, principalmente, na construção de uma rede para cultura de paz. Cumprimos a nossa missão de estar em rede com as diversas delegações”.
Para ler a carta apresentada à organização do Congresso Latinoamericano Cultura Viva Comunitária, acesse
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