A construção da Cultura do Pedal

Cidadania Cultural, Juventudes, O que é Direito à Cidade?, Reforma Urbana, Formação, Democracia e Participação, Convivência e Paz
25 de setembro de 2015

Confira a cobertura do debate realizado pelo Instituto Pólis durante a Semana da Mobilidade

Andar de bicicleta pode alterar nossa percepção de cidade? Esse meio de transporte se entrelaça a outros movimentos e lutas sociais? É possível construirmos uma mobilidade cultural a partir do pedal? Essas foram algumas das pautas abordadas no debate sobre espaço urbano, promovido no âmbito do Programa Jovem Monitor Cultural (PJMC), articulado pelo Instituto Pólis, durante a Semana da Mobilidade 2015.

“Com a bike, você consegue sentir o cheiro; escutar a cidade; ver o espaço de outra maneira” relatou Luiz Barata, coordenador de gestão do PJMC e mediador da mesa. Ao fazer a abertura do debate, o coordenador mencionou a primeira pedalada pelo centro de São Paulo, organizada pelo Instituto Pólis.

A bicicleta pode ser considerada um instrumento revolucionário. No entanto, segundo Talita Noguchi, sócia proprietária da loja Las Magrelas e integrante do Coletivo Feminista de Ciclismo Pedalinas, depende de quem a pedala. “O ativismo da mobilidade é importante, mas por si só ele não é a solução˜, afirma Noguchi. O recorte de gênero, por exemplo, é intrínseco ao cicloativismo, pois a mulher ainda encontra dificuldades em ocupar o espaço público, devido a assédios nas ruas.

Para Marina Harkot, integrante do GT de gênero do Ciclocidade, andar de bicicleta na cidade pode ser perigoso para as mulheres. Em São Paulo, cerca de 6% dos ciclistas são mulheres. Segundo Harkot, a baixa porcentagem é reflexo do medo que a classe feminina têm da rua e da ausência de estímulo às mulheres ao esporte.

Quando a pauta é mobilidade urbana, além do recorte de gênero, é necessário um recorte de classes. Roberson Miguel, membro do movimento Ciclovia nas Periferias, acredita que devemos desconstruir a ideia de que bicicleta e transporte público são exclusivos de determinadas camadas sociais. A bicicleta é um instrumento democrático capaz de proporcionar uma vivência mais intensa do espaço urbano.

Além fazer intersecções com movimentos sociais, será que a bicicleta pode ser um meio de disseminar arte? Para Gustavo Guimarães, idealizador e diretor do Ciclistas Bonequeiros, tudo indica que sim. O grupo mescla a linguagem do teatro lambe-lambe com a mobilidade da bike. Essa técnica teatral utiliza uma caixa preta como espaço cênico e bonecos como personagens. Segundo Guimarães, a cidade é palco para a dramaturgia com bonecos. O projeto é uma maneira de democratizar a prática teatral e questionar a política carrocrática na qual estamos inseridos.

A mídia é uma das responsáveis pela construção da ideia de que carro deve ser a norma e nunca é culpado pelos acidentes de trânsito envolvendo ciclistas.”Onde está o discurso do capacete?”, indagou o cicloativista Gabriel Di Perro. Propaga-se, assim, a noção de que os ciclistas e pedestres devem se proteger de seus próprios atropelamentos. Segundo Di Perro, existe uma lógica de que a culpa deve recair  naqueles que se arriscam demais – no caso, nos ciclistas.

Da esquerda para a direita: Roberson Miguel, Talita Noguchi, Marina Harkot, João Whitaker, Gabriel Di Perro, Gustavo Guimarães e Luiz BarataDa esquerda para a direita: Roberson Miguel, Talita Noguchi, Marina Harkot, João Whitaker, Gabriel Di Perro, Gustavo Guimarães e Luiz Barata

A mobilidade, que nunca foi satisfatória entre os mais pobres, entrou em colapso a partir do momento em que passou a afetar as classes dominantes. De acordo com o urbanista João Whitaker, o automóvel mostrou-se um transporte anti-sustentável. A qualidade do sistema de mobilidade de uma cidade pode ser avaliada pela capacidade de deslocamento da população. Segundo Whitaker, se não há deslocamento, não há cidade.

A rapidez dos transportes mede o nível de democracia de determinado local. Sobre São Paulo, o urbanista defende que vivemos uma peculiaridade urbana: aqui existem políticas de privilégios e barreiras sociais. Ao se tentar desconstruir essa lógica – como está acontecendo agora com o aumento de investimentos em transportes públicos de massa –  há uma reação violenta, que evidencia os antagonismos sociais da cidade.

O Instituto Pólis, a partir do Programa Jovem Monitor Cultural, deu espaço para que os jovens pudessem vivenciar a Semana da Mobilidade por meio da 1ª Pedalada, pelo centro da cidade, e do debate narrado. A bicicleta vai além da mobilidade: pode transportar movimentos sociais, culturas e até mesmo uma revolução.

Assista ao vídeo do debate:

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Uma resposta em “A construção da Cultura do Pedal

  1. Muito interessante os argumentos,criticas e sujestões sobre mobilidade.Por exemplo:Os engenheiros e técnicos de trânsito projetaram as margianais(tiête,pinheiros etc.) sem passagens pra pedestres.As Universidades também tem que reformar a sua maneira de ensino. Momento de reflexão.

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