Mensagens do Moinho – Criatividade para a Saúde da Cidade!

Participação Cidadã, Cidadania Cultural, O que é Direito à Cidade?, Reforma Urbana, Cineclube e Mídias, Inclusão e Sustentabilidade, Formação, Desenvolvimento Econômico Local, Democracia e Participação
9 de abril de 2012

 

Cine Moinho – 19h, dia 23/03, na Favela do Moinho – contexto do Festival colaborativo BaixoCentro.

Reunimos os equipamentos necessários para a projeção dos filmes (as caixas e mesa de som, o projetor, os fios de eletricidade), lugarzinhos pra sentar (solucionado com os divertidos tapetes eva), e montamos uma telona no campinho da Favela do Moinho, com a ajuda da comunidade, e da produção colaborativa do festival.

A produção colaborativa acontece quando cada um dos grupos culturais que se inscreve no Festival diz “o que precisa” para a sua apresentação e “o que disponibiliza”. Matematicamente todos saem ganhando: “eu cedo um equipamento e recebo muito mais de um”. Não só equipamentos importam numa produção colaborativa, mas também a soma de idéias, esforços e soluções criativas para o aperfeiçoamento das apresentações do festival! Desta forma o festival proporcionou uma cidade mais conectada e inteligente durante toda a semana passada, onde muitos se conheceram e potencializaram suas ações, numa vivência ao mesmo tempo crítica e criativa dos espaços públicos da cidade.

Não conseguimos levar muita gente de fora da Favela para participar do Cine Moinho. Mas isto não importa muito. O material virtual e as fotografias impressas em lambe-lambe para a divulgação do evento cumprem um pouco a missão de se fazer conhecer a Favela do Moinho e a dramática situação de violação dos direitos humanos que sofre a população da região.

Poucos já tiveram a coragem de entrar em uma favela e ouvir, com sinceridade, o que o lugar diz. As favelas são como dobras da cidade, um verdadeiro portal onde parece se entrar em outro mundo. No Cine Moinho estiveram principalmente as crianças da região. Crianças com sede de colo, outras violentas e autoritárias. O olhar de socorro misturado com alegria acompanhavam os abraços desesperados daquelas crianças que pediam pra gente voltar antes mesmo do filme começar. Enganam-se aqueles que enxergam apenas alegria, união e solidariedade nas comunidades marginais da cidade. Há muita solidão.

Apesar da situação dramática que conhecemos no breve contato com as crianças da Favela do Moinho, não podemos deixar de reconhecer a natureza criativa da reprodução daquele espaço; a ordem na desordem; as soluções originais dos moradores para poderem viver alí – no centro da cidade. Aquilo tudo não pode passar batido aos nosso olhos: quase três meses depois do incêndio que destruiu parte dos barracos e deixou mais de 380 famílias desabrigadas, a favela já tinha achado novos caminhos. Uma espécie de colcha de retalhos compõe a paisagem da favela, que recicla, resignifica e inventa usos do espaço, fazendo da necessidade a base da sua invenção em alta velocidade. Na sua maioria catadores e recicladores de lixo, eletricistas, trabalhadores da construção civil e empregadas domésticas, ninguém melhor do que a população do Moinho para nos ensinar a recriar e resignificar o espaço público da cidade.

No contexto do Festival BaixoCentro que nos estimulou a sair dos lugares cômodos e pré-estabelecidos, e ocupar as ruas da cidade com ações criativas e colaborativas, saímos da Favela do Moinho com a certeza da necessidade de criarmos novos indicadores sobre qualidades urbanas.

É claro que toda miséria é miserável, sem relativismos, e que organização e ordem são indiscutivelmente necessárias para garantir condições dignas de vida em sociedade. Mas a questão que se coloca é que tipo de ordem buscamos num projeto de desenvolvimento urbano social, e isto sim, devemos urgentemente relativizar e refletir. O que vemos hoje em dia em diversos projetos de desenvolvimento social é a imposição violenta de um certo tipo de ordem sobre aqueles que “carecem absolutamente de tudo”. Isto quando estes são de alguma maneira incluídos no projeto, e não expulsos para as franjas da cidade..

Como diz Jane Jacobs, “há um aspecto ainda mais vil que a feiúra ou a desordem patentes que é a máscara ignóbil da pretensa ordem, estabelecida por meio do menosprezo ou da supressão da ordem verdadeira que luta para existir e ser atendida”.

Esta foi a mensagem do Moinho para a equipe do Pólis Digital: Vamos ouvir a cidade com mais criatividade para pensar soluções sociais, não impondo velhos padrões, mas sim conectando potencialidades já existentes nas necessidades reais, e encontrando no local as respostas para desafios globais.

Seguimos!

 

Carolina Caffé – é técnica na Área de Comunicação e Cultura do Instituto Pólis, e coordenadora do projeto Pólis Digital.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fotos do Moinho – por Rogério Fernandes

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