Em abertura do Encontro Conviver em Paz nas Cidades, agentes e gestores culturais debatem formas de construir a paz nas metrópoles

Em abertura do Encontro Conviver em Paz nas Cidades, agentes e gestores culturais debatem formas de construir a paz nas metrópoles
Participação Cidadã, Cidadania Cultural, O que é Direito à Cidade?, Reforma Urbana, Democracia e Participação, Convivência e Paz
20 de setembro de 2013

Recebidos pelo Bloco Afro Ilu Obá de Min com uma intervenção artística que distribuiu flores, música e poesia, os convidados do Encontro Nacional Conviver em Paz nas Cidades foram acolhidos na abertura do evento por agentes culturais e gestores públicos para uma conversa sobre a paz.

Foi ressaltada a importância da democracia para o fortalecimento de uma cultura que prima pela diversidade e pela paz para todos. Também foi retomada a história do país, marcada por ciclos de violência, como o colonialismo, a escravidão e as ditaduras, uma vez que a memória é um recurso fundamental para se seguir em frente, com uma nova perspectiva: a da liberdade e da igualdade de direitos.

Participaram da mesa de abertura Pedro Vasconcellos, do MinC (Ministério da Cultura), Marcelo Araújo, secretário estadual da Cultura de São Paulo, Juca Ferreira, secretário municipal de Cultura de SP,  Rogério Sotilli, secretário municipal dos Direitos Humanos de SP, Nabil Bonduki, vereador de SP, UNESCO, Davy Alexandrinsky, da CNPC (Comissão Nacional dos Pontos de Cultura), Lia Diskin, da Associação Palas Athena, e Hamilton Faria, do Instituto Pólis.

“Onde cresce o perigo, cresce também o que salva. Cultura de paz não é apagar o conflito, a diferença e a diversidade. É a resistência ativa, o diálogo, o sentimento positivo de amor por todos os outros. Nós somos as mudanças que queremos ver nas cidades”, disse Hamilton Faria, diretor do Pólis, em sua fala de abertura.

Lia Diskin, da Associação Palas Athena, falou sobre a importância do coletivo e do cuidado com o outro. “Nascemos altruístas, precisando de algum cuidador. Somos filhos durante anos a fio do cuidado constante de alguém. Vamos em grande parte crescer com o cuidado de alguém, iniciando a vida dessa forma e terminando a vida dessa forma. A gente se questiona o que aconteceu no meio dessa vida que nasce em condição de fragilidade e parte em condição de fragilidade”.

Ao retomar problemas históricos do país, Pedro Vasconcellos, do MinC, falou sobre a superação da violência por meio de políticas públicas que valorizem nossos povos e culturas. “Considero que haja um esforço pelas políticas públicas, principalmente do governo federal, que enfrentam uma grande chaga da sociedade brasileira, que é justamente a questão da violência. Somos uma sociedade violenta, patriarcal, escravocrata, o que se reflete nos problemas que identificamos todos os dias”.

“Precisamos fazer uma discussão aberta com toda a sociedade brasileira sobre que mundo é este que estamos vivendo, qual é o nosso papel, que humanidade queremos e que mundo queremos. Nossas comunidades populares são uma grande referência para estas questões. Uma lei como a que reconhece a Pachamama [a mãe natureza], na Bolívia, é exemplo para essas questões tão atuais”, disse Vasconcellos.

Ocupar as ruas com paz

Davy Alexandrinsky mencionou a metodologia de ausculta como uma forma de retomar as ruas e contou sobre o projeto Papo na Subida, no qual se gravava um depoimento com uma pessoa da comunidade do Morro do Preventório, no Rio de Janeiro, enquanto ela estivesse subindo o morro. O depoimento colhia histórias dos personagens do bairro, memórias e afetos.

“No momento que estamos vivendo, em que as ruas estão sendo retomadas pela população, é fundamental a gente retomar a conversa sobre a cultura de paz. O programa Cultura Viva institucionaliza essa preocupação com a ocupação da rua. Nós fazemos cortejos, resgatamos manifestações já esquecidas como o mineiro-pau, o jongo e o maracatu. Trata-se de uma virada muito significativa”, diz Alexandrinsky.

O vereador Nabil Bonduki falou sobre a cultura de paz no contexto das metrópoles. “A cultura urbana de paz significa revertermos um conjunto de políticas e práticas que aconteceram na nossa cidade nos últimos 50 anos: a segregação, a exclusão e a falta de uso do espaço público como uma regra. Temos uma cidade que se estrutura em cima de um processo que tem sido crescente [de especulação imobiliária, segregação dos prédios por muros e cercas eletrificadas, de apropriação da rua pelo automóvel e abandono de parques e praças], e eu espero que possamos interrompê-lo”.

Democracia e ampliação dos direitos humanos

Juca Ferreira, secretário municipal de Cultura, diz ser otimista em relação ao presente e futuro. “Do fim da ditadura para cá, o Brasil vem construindo uma institucionalidade democrática, com uma certa solidez. E sem democracia não há paz, as cidades ficam à mercê dos ditadores e do mercado”.

“Fomos o país no mundo que mais avançou na redução da desigualdade. Claro, saímos de uma situação em que éramos o mais desigual -ou o segundo- do mundo, mas incluímos 50 milhões de pessoas. Esse é um dado enorme para a construção da cultura de paz, que depende de políticas públicas, da plena realização humana de todos da sociedade. Historicamente, constituímos um Estado violento e autoritário, mas, se vemos a imagem em movimento vemos um processo de construção da cidadania”, disse o secretário.

Rogério Sotilli, secretário municipal dos Direitos Humanos de São Paulo, ressaltou a importância da educação e da ocupação dos espaços públicos na construção da paz. “A construção de uma cidade de paz passa pelo reconhecimento das nossas dificuldades e passa também pelo nosso diálogo com a sociedade civil”, disse Sotilli.

Por fim, Marcelo Araújo, secretário estadual da Cultura, reiterou que “a cultura é o veículo por meio da qual se expressam a individualidade, as identidades e a valorização dos territórios. É ela que permite essa construção da solidariedade e da alegria”, disse.

Às 19h, houve o coquetel de lançamento do livro “Cultura Viva, Políticas Públicas e Cultura de Paz”.

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