Conviver em Paz nas Cidades – um encontro sobre Cultura de Paz, Políticas Públicas e o Direito à Cidade

Conviver em Paz nas Cidades – um encontro sobre Cultura de Paz, Políticas Públicas e o Direito à Cidade
Participação Cidadã, Cidadania Cultural, O que é Direito à Cidade?, Reforma Urbana, Democracia e Participação
28 de agosto de 2013

O Pontão de Convivência e Cultura de Paz do Instituto Pólis promove no mês de setembro o “Conviver em Paz nas Cidades – Encontro Nacional Cultura de Paz, Políticas Públicas e Direito à Cidade”, organizado em parceria com representantes do Ministério da Cultura, da Funarte, da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), da Associação Palas Athena, das Secretarias de Cultura de São Paulo, da Comissão Nacional dos Pontos de Cultura e da sociedade civil.

De 19 a 21 de setembro, o Pontão irá coordenar os encontros do Conviver em Paz nas Cidades, cujo principal objetivo é trazer à agenda pública a compreensão da cultura de paz no âmbito da convivência e das ações culturais.

Norteados pela questão “Como construir a cultura de paz nas cidades?”, ao longo dos três dias, os círculos vão dialogar sobre os temas Políticas Públicas para a Diversidade e Cultura de Convivência; Mobilidade Urbana, Cultural e Convivência; A Apropriação da Cidade e os Espaços Públicos de Convivência e Educação para a Paz, Tecnologias Socioculturais e Comunicação.

Em meio à organização do Encontro, Hamilton Faria, poeta e diretor do Instituto Pólis, fala sobre a importância da Cultura de Paz em ambientes urbanos. “São Paulo desenvolveu a cabeça, pois há ainda certas pessoas com um corpo deformado por plásticas predatórias,  por interesses privados, sem qualquer noção do bem público, mas, ainda não desenvolveu a sua alma, formada por diversas histórias, cores, sabores, imaginários, que podem contribuir para a construção de um novo projeto civilizatório.  A sociedade civil e a população precisam transformar a diversidade em cidade”, diz Faria.

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Participam do encontro gestores públicos, ONGs e agentes culturais de vários Estados como Amazonas, Alagoas, Maranhão, Rio Grande do Norte, Pará, Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Hamilton Faria, poeta e diretor do Instituto Pólis

Como surgiu o Pontão de Convivência e Cultura de Paz?

Hamilton Faria – O Pontão de Convivência e Cultura de Paz é uma parceria do Instituto Pólis com o Ministério da Cultura no Programa Cultura Viva. Estamos já há cinco anos difundindo a cultura de paz nas redes culturais do país e debatendo a importância da Cultura de Paz nos Pontos de Cultura; desenvolvendo cursos em escolas e instituições, realizando encontros, publicações, debates públicos, caminhadas, propondo metodologias e vivências. O Encontro é o resultado de todo esse processo.

A Cultura de Paz é um novo tema?

– Não, a cultura de paz não é apenas um tema, é um conjunto de conhecimentos e ações que sempre estiveram postos na história da humanidade, mas que estão presentes na história contemporânea, principalmente, desde o final da Segunda Grande Guerra e após a Declaração dos Direitos Humanos, da ONU.  Mais recentemente,  vieram documentos da Unesco, como o Manifesto 2000 por uma Cultura de Paz e Não Violência, que foi um ponto de inflexão. No Brasil, a referência maior é a Associação Palas Athena, que tem se dedicado inteiramente à mudanças nesta perspectiva. Hoje, a Cultura de Paz é compreendida de forma ampla –como atitudes e comportamentos, métodos de resolução de conflitos, modos de vida, filosofia, paradigmas para uma mudança civilizatória. Portanto, considerar a Cultura de Paz como um tema é empobrecer os processos de mudança.  As cidades estão doentes, a democracia clama pela inclusão da diversidade,  o desenvolvimento urbano tem sido realizado em meio à convivências tensas e com violência.

É este o mote do Encontro de setembro?

– Acho que vai por aí: o tema é Cultura de Paz, Políticas Públicas e Direito à Cidade. Não estamos na cidade dos incluídos. O mercado imobiliário, o crescimento desordenado, a mobilidade restrita, o ambiente degradado das metrópoles, o desrespeito aos patrimônios históricos e imateriais presentes no desenvolvimento urbano,  a naturalização da violência contra jovens, principalmente negros das periferias, a falência da segurança pública, a discriminação  da diferença, como é o caso das variadas opções sexuais, nos levam a concluir que é urgente transformar a cultura de paz em um mantra para o nosso modo de vida.

A população que vive nas cidades não acredita na paz?

– A cultura de paz ganha força e novos significados no dia a dia, por que ela se constrói na ação. Hoje há várias ações no país inteiro, de reflexões nos debates públicos a atos simbólicos.  Da atuação dos jovens em conselhos, como o CONJUVE,  ao Programa Juventude Viva e às ações públicas, como as mobilizações de junho. Há ainda os Pontos de Cultura que incluem a cultura de paz em sua agenda. No primeiro semestre, fizemos três caminhadas tematizando poéticas, símbolos e gestos da paz e vários diálogos nas ruas e em escolas. É importante que se diga que a paz não é submissão ao poder do mais forte,  extinção dos conflitos, imaginários sem divisões. A paz reconhece o conflito, é resistência ativa, mas com métodos de diálogo, conversação, justiça, reconhecimento de direitos humanos e o próprio direito à vida, em todas as suas manifestações.

E qual o significado para uma cidade como São Paulo de um encontro desta natureza?

– São Paulo é das cidades com maior incidência de perturbações mentais no mundo. Atualmente,  29% dos paulistanos e moradores da região metropolitana sofrem de algum tipo de perturbação mental: por mudanças comportamentais, abuso de substâncias químicas e, principalmente, ansiedade.  E isto não é afirmação minha; é originária de estudo recente da Organização Mundial da Saúde (OMS).  O mesmo estudo diz que a alta incidência destes males é causada pela elevada urbanização associada com privações sociais, principalmente dos grupos mais vulneráveis, com destaque para migrantes e mulheres. Todos sabem que temos uma população indígena, em sua maioria guarani na cidade de São Paulo; uma comunidade boliviana que cresce dia a dia. São Paulo é também a maior cidade nordestina do país. O direito à cidade é seletivo e a grande diversidade cultural  urbana ainda não usufrui plenamente do espaço público, por exemplo, tomado pela mobilidade de carros e caminhões,  e pelo ir e vir sem qualquer sentido cultural. Hoje os negócios avançam para as calçadas, prejudicando inclusive o ir e vir com liberdade. São Paulo desenvolveu a cabeça, pois há ainda certas pessoas com um corpo deformado por plásticas predatórias,  por interesses privados, sem qualquer noção do bem público, mas, ainda não desenvolveu a sua alma, formada por diversas histórias, cores, sabores, imaginários, que podem contribuir para a construção de um novo projeto civilizatório.  A sociedade civil e a população precisam transformar a diversidade em cidade.

Como as questões urbanas emergem no Encontro Nacional?

–  Vamos debater o papel da diversidade; a mobilidade urbana e a mobilidade cultural; o papel das tecnologias socioculturais de convivência;  a contribuição dos meios de comunicação e das novas mídias para a convivência; a relação com o meio ambiente urbano; a apropriação da cidade e as poéticas de rua; a educação para a paz e o reencantamento da cidade. Estão aí os temas para fazermos bom uso e gerarmos propostas e agendas para a cidade.

É possível reencantar  São Paulo?

– A produção cultural de São Paulo é incrível, não apenas a dos artistas consagrados. A periferia transborda de poesia e criação cultural. Participo dia a dia do debate e da formulação cultural da cidade há muitos anos. São Paulo precisa reconhecer a sua beleza, salvar-se pela sua beleza, para lembrar Dostoiévski, transformá-la em propostas de ação pública. É inacreditável  que a cidade dos “Mil Povos” -com seus 11 milhões de habitantes, o maior centro econômico do país, o maior espaço cultural do país, em criação e eventos- ainda não tenha transformado a cultura como vetor do desenvolvimento. E isso implica em vontade política, em recursos, redesenhos institucionais, integração de políticas, debate público, ética do cuidado em relação ao bem comum.  Bem comum – esta é uma das chaves para o direito à cidade e o reencantamento do urbano.

E não há reencantamento sem cultura. É esta a diferença. A cultura pode reencantar a cidade.

E a cultura de paz é a alma do reencantamento do mundo.

 

Hamilton Faria é poeta, diretor do Instituto Pólis e coordenador da área de cultura e do Pontão de Convivência e Cultura de Paz.

 

Vídeos do Pontão:

 

Assista entrevista com Hamilton Faria, poeta e coordenador da área de Cultura do Pólis, sobre o Encontro Nacional

Assista entrevista com Valmir de Souza, consultor do Pólis, sobre mobilidade e interculturalidade na América Latina

Rogério Sotilli, secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania, fala sobre direitos humanos em São Paulo

Elvis Albuquerque, agente cultura de Diadema, Grande São Paulo, fala sobre a construção de campos simbólicos para promoção da cultura e da diversidade

Lia Diskin, co-fundadora da Associação Palas Athena, fala sobre a cultura de paz e a construção de um espaço criativo de co-cidadania

Lala Deheinzelin, consultora internacional de economia criativa,  fala sobre o que é conviver em paz nas cidades e de como a economia criativa pode auxiliar na construção desse cenário

Baby Amorim, coordenadora do Instituto Ilu Obá de Min, fala sobre ações que incentivam e promovem a cultura de paz nas cidades

Vera Salles, coordenadora do projeto Comunicapaz [Maranhão], fala ações que incentivam e promovem a cultura de paz nas cidades

 

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